Entre os dias 25 e 29 de setembro, Fortaleza sediou o 48º Congresso da Sociedade Brasileira de Imunologia, o NeuroImmunology 2024. O evento, realizado no Centro de Eventos do Ceará, reuniu especialistas da área, incluindo convidados internacionais, para discutir as interações neuroimunológicas. Pesquisadores apresentaram avanços significativos em temas como autismo, estresse e neurodegeneração.
O congresso abordou as complexas interações entre os sistemas nervoso, imune e endócrino. A programação incluiu palestras, simpósios, atividades e apresentações de pôsteres, com a abertura oficial realizada pelo presidente do comitê organizador, Moisés Evandro Bauer.
Um destaque na abertura foi a premiação “SBI Women in Science”, concedida à pesquisadora Claudia Ida Brodskyn (Fiocruz-Bahia), em reconhecimento às suas contribuições para a ciência. O objetivo do prêmio é ressaltar a luta pela equidade de gênero no ambiente acadêmico e na pesquisa. A premiação foi entregue pela presidente da SBI, Maria Bellio (UFRJ), e pela imunologista Ana Maria Caetano Faria (UFMG).
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neuroimunomodulação (INCT-NIM) participou ativamente do evento. Wilson Savino (Fiocruz) apresentou a palestra “The Immunoneuroendocrine Syntax”, discutindo as interações entre os sistemas imunológico, nervoso e endócrino, e “Neuroendocrine Control of the Thymus in Health and Disease”, abordando o controle neuroendócrino do timo. Carmem Juracy Silveira Gottfried (UFRGS) explorou os temas “Brain Cells in Neuroimmune Functions” e a neuroimunologia do transtorno do espectro autista. Ana Rosa Perez (CONICET-UNR, Argentina) trouxe uma discussão sobre como o estresse afeta as interações neuroimunes em “Neuroimmune Interactions Promoted by the Stress-Responsive Axes”.
Outros nomes de destaque incluíram Lício Augusto Velloso (Unicamp), que discutiu “O papel dos monócitos recrutados na inflamação hipotalâmica induzida pela dieta”, e Vinicius de Frias Carvalho (Fiocruz-RJ), que apresentou “Intestinal dysbiosis is crucial for the hyperactivity of the hypothalamus-pituitary-adrenal axis in diabetic mice”, abordando a relação entre a disbiose intestinal, um desequilíbrio nas populações de microrganismos que vivem no intestino, e a diabetes. Olivier Hermine, do Institut Imagine, abordou as complicações neurológicas associadas à mastocitose, enquanto Sourav Ghosh, da Yale School of Medicine, destacou a imunorresiliência na doença de Alzheimer, trazendo novas perspectivas sobre o tema.
Além disso, o evento contou com o Prêmio Thereza Kipnis, concedido ao melhor trabalho científico na área de imunologia translacional, e com o Prêmio BD-SBI, que reconhece o uso inovador da Citometria de Fluxo com Múltipla Marcação no Brasil. Todos os premiados, em nível de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, além dos vencedores do Prêmio Thereza Kipnis, receberam dois livros: “Neuroinflamação – da Biologia à Terapia” e “Neuroimunomodulação: Interações Imunoneuroendócrinas na Saúde e na Doença”, ambos publicados no âmbito do INCT-NIM, como forma de incentivo à temática de neuroimunologia.
O próximo Congresso da Sociedade Brasileira de Imunologia já tem data marcada, e será realizado entre os dias 13 e 17 de outubro de 2025, em Armação dos Búzios, Rio de Janeiro.
Lançamento do livro “Neuroinflamação – da Biologia à Terapia”
Durante o evento, o pesquisador Wilson Savino lançou o livro “Neuroinflamação – da Biologia à Terapia”, da Editora Atheneu, que conta com o apoio de importantes redes de pesquisa, como o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neuroimunomodulação (INCT-NIM), a Rede FAPERJ de Pesquisa em Neuroinflamação e a Rede INOVA – 10C em Neuroimunomodulação da Fiocruz. O livro, composto por 4 autores, 76 colaboradores, 5 seções, 26 capítulos e cerca de 400 páginas, explora a interação entre os sistemas nervoso, endócrino e imune, abordando o processo neuroinflamatório tanto no sistema nervoso central quanto no periférico, e como essas interações celulares e moleculares afetam os três sistemas, além de sua relação com o meio ambiente.
Ele explica que a principal motivação para escrever o livro foi a ausência de uma obra abrangente que explorasse desde os mecanismos básicos de neuroinflamação até as doenças neurodegenerativas e infecciosas associadas a esse processo. Savino destacou ainda que, antes dessa publicação, não existia um livro que cobria esses temas de maneira tão ampla, incluindo também capítulos sobre abordagens terapêuticas. “A neuroinflamação é cada vez mais relevante, tanto na pesquisa científica quanto na prática clínica, e acreditamos que este livro será útil para estudantes de pós-graduação e profissionais das áreas de ciências da saúde, em particular imunologia e neurociência”, afirmou.
O pesquisador também falou sobre dois principais avanços na pesquisa da neuroinflamação abordados no livro. O primeiro trata da relação entre obesidade e neuroinflamação, um campo ainda pouco explorado, mas que promete moldar novas alternativas terapêuticas. “Lício Velloso, do INCT-NIM, tem se dedicado a esse tema, mostrando que o foco não deve estar apenas na questão da gordura, mas também no processo neuroinflamatório, que é fundamental”, explicou Savino, enfatizando que esse conhecimento será crucial para futuros tratamentos da obesidade.
O segundo avanço refere-se ao desenvolvimento de um anticorpo terapêutico direcionado à molécula VLA-4, um alvo relacionado à esclerose múltipla, uma doença neurodegenerativa comum. Savino explicou que os tratamentos disponíveis atualmente para esclerose múltipla são caros, o que limita o acesso a muitos pacientes, especialmente no sistema público de saúde. “Nós desenvolvemos um anticorpo que não apenas é mais eficiente do que os tratamentos atuais, mas também será produzido com o objetivo de ser acessível ao sistema único de saúde, o que é um avanço importante”.
Ele ainda acrescentou que o novo anticorpo está em fase de testes pré-clínicos, com previsão de entrar nos ensaios clínicos a partir de 2025. “Embora o processo seja demorado, em cerca de cinco anos esperamos que esse tratamento já esteja disponível ou em fase final de desenvolvimento para uso clínico”, completou, destacando a importância dessa inovação tanto para a ciência quanto para o atendimento médico mais acessível.