Nova hipótese relaciona malária à disfunção hepática e sequelas neurológicas

A malária é uma das doenças infecciosas mais letais do mundo, afetando cerca de 250 milhões de pessoas anualmente, principalmente na África Subsaariana. Embora seja conhecida por suas complicações severas, como a malária cerebral (MC), novos estudos indicam que suas sequelas neurológicas podem estar ligadas a um órgão inesperado: o fígado. Essa hipótese é sugerida pelos pesquisadores Yuri Chaves Martins e Cláudio Daniel Tadeu-Ribeiro (Gestão – INCT-NIM) por meio do estudo publicado em dezembro de 2024 na Trends in Parasitology, intitulado “A hypothesis to explain malaria-induced neurocognitive sequelae”.

Por meio de suas pesquisas, os cientistas levantaram hipóteses para explicar os danos cognitivos e comportamentais observados em pacientes que sobreviveram à infecção por Plasmodium falciparum. Eles também observaram que alterações neurocognitivas e comportamentais, durante e/ou após o tratamento com antimaláricos, se destacaram tanto em formas graves quanto em formas não graves da doença, além de em indivíduos assintomáticos portadores de P. falciparum.

Como os mecanismos por trás do dano ao tecido cerebral durante a MC e outras formas da doença ainda não são totalmente compreendidos e podem diferir entre crianças e adultos, duas hipóteses complementares têm sido utilizadas para explicar como a infecção por P. falciparum causa danos ao tecido cerebral. A primeira é a hipótese da sequestração, que sugere que os glóbulos vermelhos infectados pelo parasita aderem aos microvasos cerebrais, bloqueando o fluxo sanguíneo e causando isquemia, o que leva à morte celular e a danos neurológicos. Já a segunda é a hipótese inflamatória, que propõe que a infecção desencadeia uma resposta inflamatória sistêmica intensa, gerando distúrbios na coagulação, aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica (BHE), vasoconstrição e edema vasogênico, resultando em inchaço e lesões cerebrais.

No entanto, durante o estudo, observou-se que essas hipóteses não explicam completamente algumas evidências clínicas. Por isso, os pesquisadores propuseram uma alternativa baseada na disfunção hepática.

O fígado desempenha um papel essencial na filtragem de toxinas do sangue e na regulação de substâncias químicas importantes para o funcionamento do cérebro. Quando ocorre uma falência hepática, mesmo que leve, neurotoxinas podem se acumular na corrente sanguínea, atravessar a barreira hematoencefálica e provocar sintomas neurológicos, um quadro conhecido como encefalopatia hepática.

Martins, Yuri Chaves et al.
Trends in Parasitology, Volume 40, Issue 12, 1077 – 1080

De acordo com os pesquisadores, a infecção pelo Plasmodium pode gerar estresse oxidativo no fígado, levando à inflamação e à disfunção hepática. Isso, por sua vez, poderia causar alterações neurocognitivas e comportamentais nos pacientes, tanto em casos graves quanto em infecções menos severas ou até mesmo assintomáticas. Essa descoberta pode explicar por que algumas pessoas que superam a malária continuam apresentando dificuldades cognitivas, mesmo sem sinais de danos cerebrais diretos.

“Se nossa hipótese estiver correta, terapias que visem proteger a função hepática durante a infecção por malária devem ser eficazes na prevenção do desenvolvimento dessas sequelas em sobreviventes da doença. Além disso, eventuais terapias desenvolvidas para tratar ou reverter sequelas neurológicas da encefalopatia hepática também devem ser eficazes no tratamento ou reversão das sequelas induzidas pela malária”, destacam os pesquisadores.

Leia o artigo completo clicando aqui !

CONTEÚDOS
RELACIONADAS

Ir para o conteúdo