Medalha de cavaleiro na Ordem Nacional do Mérito é uma das mais altas
condecorações concedidas pelo país
Em reconhecimento às contribuições para a cooperação científica e em saúde entre Brasil e França, a medalha de cavaleiro na Ordem Nacional do Mérito da França foi concedida ao pesquisador Wilson Savino, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neuroimunomodulação (INCT-NIM), do Laboratório de Pesquisa sobre o Timo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e assessor especial da Fiocruz para a Cooperação com Instituições Francesas.
Uma das mais altas condecorações do governo francês, a honraria foi entregue no dia 13 de fevereiro, pelo embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, em uma cerimônia realizada durante o Conselho Deliberativo da Fiocruz, no campus da Fundação no Rio de Janeiro.

O evento contou com a presença do presidente da Fiocruz, Mario Moreira; diretores e representantes de diferentes unidades da Fundação; profissionais do IOC; além de colegas e familiares do pesquisador.
“Estamos reunidos para homenagear um grande cientista, cuja carreira exemplar marcou não apenas a pesquisa, mas também a história de cooperação científica entre França e Brasil”, afirmou Lenain em discurso proferido em português.
O embaixador pontuou a longa conexão de Savino com a França, estreitada logo durante a formação acadêmica do pesquisador, e destacou sua ampla atuação na promoção de atividades científicas e culturais entre instituições brasileiras e francesas.
Lenain realçou ainda que um terço da produção científica do pesquisador foi desenvolvida em parceria com franceses, além de orientação de teses e a promoção de intercâmbio de jovens pesquisadores entre os países.
“Por meio do seu trabalho, você não apenas fortaleceu nossa cooperação, mas também permitiu que novos caminhos se abrissem, que novas gerações de pesquisadores surgissem e que fossem colocadas bases para futuros avanços científicos. Hoje a França gostaria de expressar todo o reconhecimento por seu trabalho e comprometimento em excelência científica”, concluiu.
Seguindo o protocolo da honraria, Lenain entregou a medalha de cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito em discurso proferido em francês.
A importância da condecoração foi realçada pelo presidente da Fiocruz ao afirmar que, embora a medalha seja um reconhecimento ao trabalho e dedicação de Savino à ciência, a Fundação também se sente homenageada.

“Além de ser grande responsável pelo estreitamento e fortalecimento dos laços científicos e acadêmicos com instituições francesas, e grande cientista, Savino é um humanista. Isso não aparece no currículo, mas está escrito na sua trajetória”, destacou Mario.
O presidente também enfatizou a visão institucional e o compromisso político do cientista, expressado na dedicação à redução das desigualdades sociais por meio de suas cooperações internacionais, com incentivo à decolonização da ciência e da produção de conhecimento.
“Savino é altamente engajado no equilíbrio dos países no acesso à saúde. Dedicou, e dedica, parte da sua vida à formação de cientistas não apenas no Brasil e na França, como também em países da África”, acrescentou.
No discurso de agradecimento, Wilson Savino dedicou a medalha à educação pública brasileira, intrínseca à sua trajetória acadêmica e profissional.
“Se aqui estou hoje é porque estudei praticamente toda minha vida em escolas públicas brasileiras. As pesquisas desenvolvidas nestas décadas foram possíveis porque houve investimento de agências públicas de fomento à pesquisa, federais e estadual, e porque sempre fui acolhido por instituições públicas”, destacou o pesquisador que está há mais de 40 anos no IOC.
Savino também compartilhou a honraria com o coletivo de pessoas com quem trabalhou ao longo de sua trajetória e afirmou que a conquista não era apenas individual, mas também da comunidade científica e do povo brasileiro.
“Tenho a honra e a responsabilidade de expressar um ‘eu plural’, com camadas de contribuição distintas e fundamentais, que me levaram a estar aqui neste dia, não apenas como pessoa física e servidor público, mas também, e, principalmente, como Laboratório de Pesquisas sobre o Timo, como Instituto Oswaldo Cruz, como Fundação Oswaldo Cruz, como ciência brasileira, como Estado Brasileiro e como povo brasileiro. Evoco, portanto, a palavra de origem Bantu: ‘Ubuntu’, que nos coloca como seres coletivos, ‘eu sou porque nós somos’”, concluiu.
Ao final de seu discurso, o cientista leu um poema de sua autoria, originalmente apresentado em setembro de 2019, quando também foi homenageado na França com o título de doutor honoris causa da Universidade Sorbonne.
A honraria
A medalha da Ordem Nacional do Mérito da França (em francês, Ordre national du Mérite) é uma condecoração concedida pelo governo da França a cidadãos franceses e estrangeiros que prestaram serviços meritórios ao país, promovendo valores como dedicação, inovação e impacto social.
A medalha é frequentemente concedida a diplomatas, cientistas, artistas, empresários e outros profissionais que contribuíram significativamente para o país ou para as relações internacionais da França.
Por Max Gomes / Edição: Raquel Aguiar (Comunicação – Instituto Oswaldo Cruz)
Trajetória de Wilson Savino – o cientista que estuda o timo e constrói pontes entre ciência e sociedade
Wilson Savino é um nome que ecoa no cenário científico brasileiro e internacional. Com uma carreira marcada pela busca incessante do conhecimento e pela formação de novos cientistas, Savino é um pesquisador singular, tanto por sua contribuição acadêmica quanto pelo impacto humano que deixou em cada etapa de sua trajetória.
Após concluir sua formação em Biologia, Savino encontrou no estudo do timo a chave para o desenvolvimento de um dos primeiros laboratórios dedicados exclusivamente a essa área no país. Inspirado pela descoberta dos corpúsculos de Hassall, uma estrutura no timo que chamou sua atenção ainda na faculdade, ele deixou a Medicina para seguir a Biologia. Essa decisão corajosa e repleta de convicção levou-o a se tornar uma das maiores referências mundiais em imunologia.
Em 1980, já com um caminho acadêmico consolidado, ele ingressou no doutorado. Como sua trajetória não pararia por aí, Savino se aventurou em um pós-doutorado no Hospital Necker, em Paris, sob a orientação do renomado cientista Mihaly Dardenne. Ele aprofundou-se nos estudos sobre o epitélio tímico e a produção hormonal da glândula. De volta ao Brasil, estabeleceu um laboratório de pesquisa sobre o timo no Instituto Oswaldo Cruz, que, ao longo de quase 40 anos, não apenas contribuiu para a literatura científica sobre imunologia, como também se tornou um espaço de formação e colaboração internacional, promovendo a interconexão entre jovens pesquisadores e cientistas consagrados.
Savino não é apenas um cientista, mas também um educador apaixonado. Ele teve um papel fundamental na criação e organização do programa de mestrado e doutorado em Biologia Celular e Molecular no Instituto Oswaldo Cruz, iniciado em 1989, que tem sido um pilar da formação acadêmica em ciências biológicas no Brasil.
O programa que ele ajudou a fundar já formou mais de 1.700 mestres e doutores, refletindo seu compromisso com a formação de uma nova geração de cientistas. Ele também colaborou com iniciativas educacionais no exterior, incluindo a criação de um programa de mestrado e doutorado em Ciências da Saúde em Moçambique, contribuindo significativamente para o avanço da saúde pública no país.
Ao longo de sua carreira, Savino foi reconhecido com diversas honrarias. Em 2013, recebeu a Medalha Luis Federico Leloir, concedida pelo governo argentino, em reconhecimento às suas contribuições para o fortalecimento da cooperação científica entre Brasil e Argentina. Em 2019, foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Sorbonne, na França, destacando sua influência global na pesquisa científica. Já em 2022, foi condecorado com a Medalha Virginia Schall de Mérito Educacional pela Fiocruz, uma homenagem à sua dedicação à educação e à formação de novos cientistas.
Além de suas realizações científicas, Savino expressa suas reflexões por meio da poesia. Em um de seus poemas mais marcantes, O Semeador, ele retrata a jornada do educador e cientista como alguém que espalha sementes de conhecimento e cultura. Ele recita:
“Lá vai ele, alforje abarrotado de sonhos e sementes das cores do arco-íris.
Lá vai ele semeando aqui e ali ciência pra quem quiser,
cultura pra quem passar aqui, ali, acolá!
Lá vai ele, andarilho atravessando céus e terras,
deslizando seu arado, semeando pensamentos…”
Para Savino, a ciência não se limita ao laboratório ou ao artigo científico. Ele enxerga a ciência como um meio de promover cidadania e democracia, principalmente em um país marcado pela desigualdade como o Brasil. Ao longo dos anos, ele tem enfatizado a importância de popularizar a ciência, levando o conhecimento para além dos muros acadêmicos e alcançando o público em geral – seja por meio de feiras de ciência, seja por projetos de divulgação científica acessíveis à sociedade.
Seu trabalho não se restringe à pesquisa e à docência; Savino também acredita na importância de comunicar a ciência ao grande público. Ele é coautor de livros de divulgação científica, incluindo Neuroinflamação: da Biologia à Terapia, um trabalho recente sobre neuroinflamação, lançado com a colaboração de diversos especialistas. O livro, com cerca de 360 páginas, destaca o papel da neuroimunologia em temas contemporâneos de saúde. Para Savino, a popularização da ciência é crucial, pois “a sociedade como um todo tem o direito de saber o que está acontecendo, qual a contribuição dos cientistas e o impacto dos recursos investidos em pesquisa.”
A arte também ocupa um lugar importante em sua vida. Fascinado pela estética africana e pela expressão artística em geral, Savino organizou a exposição O Corpo na Arte Africana, que circulou pelo Brasil e proporcionou uma experiência única, especialmente para crianças da rede pública.
Atualmente, Wilson Savino continua atuante, dividindo seu tempo entre pesquisas, colaborações internacionais, produção científica e reflexões sobre o papel da ciência na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Em cada fala, ele reforça que a ciência deve servir à sociedade, não apenas aos cientistas, e que a cooperação e a solidariedade são essenciais para o progresso humano.
Por Comunicação INCT-NIM