A Doença de Chagas, uma das infecções parasitárias negligenciada e impactante na América Latina, esteve sob análise de um estudo publicado recentemente, em abril de 2024, que investiga as complexas interações entre o timo e o cérebro durante o curso da infecção.
Causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, a doença atinge aproximadamente 7 milhões de pessoas em todo o mundo, com transmissão que ocorre desde picadas de vetores triatomíneos até transplantes de órgãos e transmissão vertical. Além de ser endêmica na América Latina, a Doença de Chagas também se disseminou para áreas não endêmicas, incluindo os Estados Unidos, Europa, Ásia e Oceania, devido a formas secundárias de transmissão.
Os pesquisadores Florencia Belén González ; Wilson Savino ; e Ana Rosa Pérez, membros do INCT em Neuroimunomodulação, investigaram o papel do timo e do sistema nervoso central (SNC) na progressão da infecção por T. cruzi, explorando como essas estruturas são impactadas pela inflamação crônica e os efeitos neuroimunológicos da doença. A pesquisa, que se baseia em diversos estudos sobre as fases aguda e crônica da Doença de Chagas, revela que o timo, glândula fundamental para o amadurecimento de células T e o controle do sistema imunológico, é afetado pela infecção de maneira que compromete seu funcionamento e sua comunicação com o SNC.
Entre os achados da pesquisa, estão os impactos na resposta imunológica, pois durante a infecção aguda, o timo sofre uma atrofia significativa, apresentando anomalias funcionais como a liberação de células T potencialmente autorreativas. Esse fenômeno, que resulta de alterações imunoneuroendócrinas, sugere uma ligação entre a disfunção do timo e os efeitos neuroinflamatórios observados nos pacientes;
A conexão entre o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e o timo, que destacou o papel dos glicocorticoides e de outros hormônios no controle do timo durante a infecção por T. cruzi. Esses hormônios, liberados como resposta ao estresse infeccioso, influenciam a sobrevivência e proliferação de células T imaturas no timo, impactando o sistema imunológico de forma a intensificar a inflamação crônica e prejudicar a resposta imune; e o envolvimento do SNC, onde foi observado que o SNC, especialmente em casos de pacientes imunossuprimidos, é uma das áreas mais suscetíveis à reativação do parasita. A inflamação e neurodegeneração resultantes podem contribuir para sintomas cognitivos, comportamentais e motores, reforçando a complexidade da doença além do sistema cardiovascular, comumente afetado pela doença.
O estudo das inter-relações timo-cérebro que ocorrem no contexto da doença de Chagas pode fornecer pistas interessantes para revelar questões importantes relacionadas aos efeitos fisiopatológicos e perturbadores sobre o timo, que podem ser relevantes em termos de seleção tímica e resposta imune mediada por células T. Além disso, estudos futuros podem destacar os mecanismos subjacentes a essas anormalidades e sua ligação com Cardiomiopatia Chagásica Crônica, o que pode contribuir para o desenho de estratégias inovadoras para controlar a patologia da doença de Chagas” citam os pesquisadores.
A pesquisa traz várias contribuições relevantes para o entendimento da Doença de Chagas e suas potenciais estratégias de tratamento. A identificação de uma conexão entre o cérebro e o timo durante a infecção oferece novas possibilidades para intervenções terapêuticas, que podem direcionar o controle da inflamação crônica e os danos imunológicos, além de trazer uma nova perspectiva para diagnosticar e monitorar a doença.
O estudo completo pode ser encontrado através do link abaixo:
