O termo ‘autismo’ surgiu em 1911, mas foi na década de 1940 que Leo Kanner e Hans Asperger começaram a delinear o que hoje conhecemos como Transtorno do Espectro Autista (TEA). Curiosamente, uma pesquisadora russa chamada Grunya Sukhareva já havia descrito casos semelhantes em 1926, mas suas contribuições foram reconhecidas apenas recentemente.
Hoje, o TEA é diagnosticado com base no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), que classifica os sintomas em duas categorias principais: prejuízo social e dificuldade de comunicação, além de padrões de comportamento restritos e repetitivos. A prevalência do TEA está em ascensão, com 1 em cada 36 crianças nos Estados Unidos sendo diagnosticada com o transtorno.
Fatores ambientais, especialmente durante a gestação, desempenham um papel crucial no desenvolvimento do TEA. A obesidade materna, combinada com predisposições genéticas e epigenéticas, pode aumentar o risco de desenvolvimento do transtorno. Outros fatores, como infecções, consumo de álcool durante a gestação e o uso de certos medicamentos, também são considerados influências significativas.
O Grupo de Estudos Translacionais em Transtorno do Espectro Autista da Universidade Federal Rural do Grande Rio (UFRGS), sob a coordenação da Dra. Carmem Gottfried, membro do INCT-NIM, está na vanguarda das pesquisas sobre a relação entre condições inflamatórias, como a obesidade, e o TEA. A equipe investiga, em particular, o impacto de um medicamento antiepiléptico utilizado durante a gestação.
Estudos em modelos animais, especificamente em roedores, demonstraram que o resveratrol, uma molécula com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, pode prevenir e até reverter os efeitos desse medicamento. Esses achados abrem novas possibilidades para terapias preventivas e de atenuação de sintomas do TEA. Em um estudo clínico preliminar com pacientes autistas, o resveratrol mostrou-se promissor, reduzindo a irritabilidade e aumentando a sociabilidade.
O futuro das pesquisas do grupo envolve a exploração da complexidade genética do TEA, a busca por biomarcadores que permitam um diagnóstico precoce e a análise de embriões em modelos animais para entender as mudanças no nível embrionário. O compromisso da equipe é desvendar os mistérios do TEA e contribuir para avanços significativos no diagnóstico, tratamento e compreensão deste complexo espectro.