Seu cérebro gosta do que você come?

O Impacto da Dieta Hiperlipídica no Comportamento e Saúde Mental

A compreensão dos efeitos comportamentais e neurobiológicos associados aos hábitos alimentares desempenha um papel crucial na saúde mental, discussão que tem ganhado cada vez mais espaço na sociedade.

É com foco nesta relação que o Laboratório de Bioenergética e Metabolismo da Universidade de Brasília (UnB), Lab de Bem, integrante do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neuroimunomodulação INCT-NIM, desenvolve parte de suas pesquisas.

“O objetivo é lançar luz sobre as complexas interações entre a dieta e o comportamento, abrindo caminho para uma compreensão mais abrangente acerca dos impactos da alimentação na saúde mental e neurobiologia”
Dra. Andreza Fabro de Bem
Coordenadora do Lab de Bem, durante o I Simpósio de Bioquímica, Farmacologia do Sistema Neuroimunendócrino na Saúde e na Doença, em Belém – PA, em 2023.
Testes Realizados

O primeiro teste se baseia na curiosidade natural dos camundongos pelo ambiente ao seu redor. Na primeira etapa do teste, os animais foram colocados em uma arena com objetos idênticos durante 5 minutos. Após 1 hora de intervalo, os camundongos retornaram à arena do teste, mas agora um dos objetos foi trocado por um “novo objeto”. Espera-se que os animais passem mais tempo explorando o “novo objeto” (diferente em cor, formato e tamanho), isso reflete a memória de reconhecimento. Entretanto, após apenas 3 dias de alimentação com dieta rica em lipídeos, os animais já apresentaram uma redução no tempo de interação com o objeto novo. Esses resultados sugerem perda cognitiva desde os primeiros dias de uma alimentação rica em lipídeos.

O segundo protocolo avaliou o comportamento tipo-depressivo dos animais, através do teste de suspensão de cauda. O teste é baseado no fato que animais que são submetidos a estresse inescapável pela suspensão de sua cauda e tendem a desenvolver uma postura imóvel. O que Gabriela observou foi que os camundongos que foram alimentados com dieta de alto teor de lipídios apresentaram maior tempo de imobilidade em relação ao grupo controle, sugerindo uma relação entre a dieta hiperlipídica e o desenvolvimento de comportamento tipo-depressivo.

Para entender como dieta hiperlipídica estaria afetando o comportamento, as pesquisadoras também avaliaram a permeabilidade da barreira hemato-encefálica (BHE), responsável por regular o transporte de substâncias entre o sangue e o Sistema Nervoso Central (SNC) e o sangue periférico. Elas observaram que a permeabilidade da BHE estava afetada no hipocampo dos animais recebedores da dieta rica em lipídios. Vale dizer que o hipocampo é a estrutura cerebral que coordena os processos de formação da memória e, portanto, a “falha” dessa barreira leva a uma condição de inflamação cerebral. Os pesquisadores também avaliaram a capacidade das mitocôndrias (do hipocampo) em produzirem energia para o cérebro. O que viram foi uma redução da capacidade bioenergética e ativação das células da glia, os astrócitos, nos camundongos alimentados com a dieta hiperlipídica.

Perspectivas do estudo

Os resultados não indicam que em humanos acontece exatamente o que foi observado no estudo com os animais. O objetivo da pesquisa, e do Laboratório, é entender como e quais são as vias potencialmente afetadas pela dieta rica em gordura para que, assim, a comunidade científica possa identificar biomarcadores e até mesmo novos alvos terapêuticos para o desenvolvimento de terapias personalizadas. Ou seja, embora tais resultados nos dê indícios das consequências e dos caminhos pelos quais as mesmas podem ocorrer, para que os objetivos sejam extrapolados aos humanos, mais estudos precisam, e estão sendo desenvolvidos.

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